Milton José subiu no Edifício Itália, foi ao último andar, chegou perto do parapeito, olhou para baixo e pulou.
– Eu vi aquele homem chegar perto do parapeito como uma criança olhou lá para baixo, depois pulou-disse o zelador do edifício em depoimento a polícia – Antônio da Cruz, zelador a alguns anos desse prédio-nunca viu nenhuma pessoa pular daquele prédio.
Delegado Ferreira, eu já disse ao senhor mil vezes que Milton saiu de casa alegre, contente por que os negócios estão indo bem. Eleonora, mulher fiel até o ponto que toda pessoa pode ser, advogada, mãe de três filhos que nunca deram trabalho.
– O que? Se ele tem amante. Não. Nunca teve uma. Alguma vez que olhou para alguém me contou ao chegar em casa.
– Meus filhos? O mais velho, Felipe é engenheiro civil e está trabalhando numa grande empreiteira, casou mês passado. Sua mulher me prometeu um neto para o ano que vem. O do meio, Nestor, está acabando a faculdade de administração de empresas. Mas já tem emprego engatilhado, está namorando uma mocinha boazinha. O caçula Caio, está terminando o colegial técnico de computação , já está fazendo cursinho para entrar no vestibular. E com certeza vai passar.
– Se tenho amante? Não. Nunca tive, e se olhasse para alguém com olhar apaixonado logo contava a ele quando chegasse em casa.
– Onde comia? Comia? Comia num Restaurante de um amigo de infância, o João. Sempre que via ele chegando já dizia para ele escolher o que quisesse que fosse por conta da casa.
Minha senhora, seu depoimento foi deveras útil. Caso descobrir mais alguma coisa eu chamo à senhora – Delegado Ferreira, famoso por solucionar casos difíceis.
Milton José, empresário de sucesso, lançou mais uma loja que está vendendo rodos de dinheiro. Subiu na vida, por incrível que pareça, honestamente. Troca de carro todo semestre.
Felipe, primeiro filho do casal, estudou nos melhores, na melhor faculdade. Conheceu uma garota no último ano da faculdade, casou quando se formou. Nestor, menino de ouro, já está acabando a faculdade de administração de empresas, e já tem um emprego na firma do pai. Caio, esse bom menino, sempre gostou de computadores, por isso fez colegial técnico de computação, vai prestar o vestibular para analise de sistemas.
– Um homem vestido como ele, da classe dele. De pele e cabelos bem tratados, um homem de classe – disse uma pedestre.
– No inicio, até pensei que ele era safado, preguiçoso, mas depois… Que rapaz…Sempre me dava presente, no meu aniversário e no dia das mães. Quando preciso ir ao médico, ele pede para um funcionário me levar-disse a mãe de Eleonora, dona Elisa – Sem pestanejar – em depoimento ao delegado Ferreira.
– Seu Milton? Um patrão excelente. Pagava-me tudo de lei, dava plano médico, décimo terceiro. Quando fiquei grávida do Josias, ele me pagou tudo. Ano passado, ele me deu férias remuneradas –disse, Cleusa, empregada da família – emocionada.
– Meu filho? Se eu falar dele posso exagerar-disse dona Ester, mãe de Milton-chorando.
– Aquele cachorro. Meu parceiro de poquer.Agora com quem vou jogar? –Apesar do fato-Seu Cleber, pai de Milton – falou meio irreverente.
A pedestre ao vê-lo estatelado no chão seco, passou um pano na cara dele, penteou o cabelo dele e foi embora.
Este é um trecho do conto :” o suicida ”.
Uma pessoa conquista riqueza,sucesso.Será que é feliz?
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Paulo José C Pires
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